terça-feira, 1 de janeiro de 2008

travessão

Ele não era nada além do normal, um homem comum – ele se odiava. Longas noites de olhos abertos, dias inteiros no seu trabalho medíocre. O salário nunca bastava, as mulheres sempre o deixavam – ele as amava.
Entreva, em noites sem lua, seus segredos às páginas amareladas de um velho caderno. Não era nada de mais, apenas garranchos repletos de nicotina e cheirando uísque barato – ele nunca disse que não.
Páginas inteiras, sem sentido. Páginas rasuradas, verdades cruas, trazendo dor e desespero. Declarava amor, flagrava sua miséria – ele disse, eu te amo.
Duas pedras de gelo derretendo no uísque barato. Outra caneta vazia, páginas cheias. Cigarro queimado. E o cheiro de café – a morte que não tarda ao ser chamada.
Em suas páginas amareladas, deixou uma última frase – Tu és pérola.

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